Ações autônomas de seguidores de organizações terroristas é
a maior preocupação, segundo Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
SÃO PAULO, Brasil – A audiência televisiva de 2 bilhões de
pessoas e a expectativa de receber 600.000 turistas estrangeiros colocam o
Brasil no centro das atenções durante a Copa do Mundo, de 12 de junho a 13 de
julho. Diante deste cenário, especialistas dizem que, apesar de o país não ser
um alvo óbvio de terrorismo, há chances reais de um atentado acontecer.
“Nossa maior preocupação é com o que chamamos de ‘lobo
solitário’, que é o indivíduo que atua sozinho”, diz Luiz Alberto Salaberry,
diretor do Departamento de Contraterrorismo da Agência Brasileira de
Inteligência (Abin).
Apesar de descartar a existência de células terroristas de
organizações como a Al Qaeda no Brasil, Salaberry ressalta que extremistas
radicais podem adotar os mesmos discursos de ódio e racismo difundidos por
esses grupos pela internet.
Para tentar identificar seguidores de terroristas, a Abin
trabalha em conjunto com agências de inteligência de 82 países e departamentos
de 38 órgãos governamentais em todo o Brasil.
“Os lobos solitários geralmente sofrem de desvios
psicológicos e poderiam causar uma tragédia, se aproveitando da presença de
delegações e turistas estrangeiros”, explica Salaberry. “O desafio é se
antecipar ao movimento dessas pessoas que nós sequer conhecemos.”
A Abin intensificou o trabalho de combate ao terrorismo em
2012, com a Rio+20, e continou no ano passado, quando o Brasil sediou a Copa
das Confederações e a Jornada Mundial da Juventude.
Para o advogado e especialista em contraterrorismo Marcus
Reis, as ameaças internas são maiores que as externas.
“A Copa pode ser um momento para chamar atenção e tentar
extorquir do estado algum compromisso político”, diz.
A inexistência de uma legislação específica favorece a
concretização de um atentado, diz Reis.
“O Estado tem que aumentar a segurança e diminuir a
vulnerabilidade do país, melhorar o controle das fronteiras e aumentar a
possibilidade de prisão para diminuir as chances de um ataque acontecer”,
acrescenta.
Há um projeto de lei em tramitação no Senado que tipifica o
crime de terrorismo e estabelece penas de 15 a 30 anos de prisão, sem direito a
fiança.
Se o projeto for aprovado, a lei antiterrorismo pode englobar desde ações terroristas de
organizações como o Hezbollah até atentados como os praticados pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em 2006 e 2012.
Além da Copa, o país vai abrigar os Jogos Olímpicos do Rio
de Janeiro, em 2016, e a Universíade de Brasília, em 2019.
Para tentar dificultar a ação de terroristas, a Abin
investiu em metodologias, treinamento e parcerias no setor público e privado.
Entre esses parceiros, estão hotéis e restaurantes que vão
atender as delegações estrangeiras. Como fez nos Jogos Pan-Americanos de 2007 e
na Rio+20, em 2012, a Abin irá treinar funcionários de vários estabelecimentos
para que informem o serviço secreto brasileiro sobre ações suspeitas.
“O terrorismo é uma ameaça que não faz parte da conjuntura
normal do Brasil, mas um grande evento possibilita esse tipo de apreensão”,
disse o general Jamil Megid Junior, assessor especial para Grandes Eventos do
Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas (EMCFA) do Ministério da Defesa, em
março, na Câmara dos Deputados, em Brasília.
Durante a Copa, cerca de 150.000 agentes policiais e das
Forças Armadas vão atuar na segurança de delegações, turistas e população em
geral.
O general informou que varreduras em busca de bombas e
agentes químicos, biológicos, nucleares e radiológicos serão feitas em todos os
estádios, hotéis oficiais e centros de treinamento, entre outras áreas
importantes, da Copa do Mundo.
“Nós já estamos ativando os nossos 12 comandos regionais das
cidades-sede e finalizando a capacitação das nossas forças, agora em abril e
maio, principalmente com exercícios simulados com representantes da segurança
como um todo”, disse Megid.
Entre os dias 24 de março e 11 de abril, delegados da
Polícia Federal e agentes da segurança pública de Amazonas, Bahia, Ceará, Mato
Grosso, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul
participaram de um curso sobre interdição marítima a terroristas.
Realizado em Moyock, no estado da Carolina do Norte (EUA), o
curso é resultado de uma parceria entre a Secretaria Extraordinária de
Segurança para Grandes Eventos (Sesge) do Ministério da Justiça, a Embaixada
dos Estados Unidos no Brasil e a Agência Antiterrorismo do Departamento de
Estado dos EUA.
Investimento em segurança
O governo federal investiu R$ 1,9 bilhão entre 2012 e 2014
para garantir a segurança na Copa.
Os recursos foram destinados à coordenação de ações entre
polícias, guardas municipais, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros e treinamento
de pessoal, além da compra de tanques de defesa antiaérea, equipamentos
antibomba e de videomonitoramento.
“Nós temos total confiança nos Ministérios do Esporte, da
Justiça e da Defesa, incluindo todas as diferentes autoridades de segurança”,
diz Ralf Mutschke, diretor de segurança da FIFA. “Estamos convencidos de que a
segurança na Copa do Mundo de 2014 será provida.”
No comments:
Post a Comment