Friday, June 5, 2015

Livro Comando Verde ganha o prestigioso prêmio Press Awards 2015

Depois de dois meses de votação popular (mais de 380 mil votos) e três semanas de deliberações do Colégio Eleitoral (188 integrantes), a Fundação Focus Brasil reuniu – da mídia brasileira e integrantes dos Boards de Premiação na noite de 17 de março, no Café Vico, em Fort Lauderdale, para anunciar os ganhadores dos Prêmios de Arte, Cultura & Comunidade, além dos Prêmios Especiais do Board.

O livro Comando Verde ganhou o troféu na categoria Literatura (melhor livro de 2014).

Mais do que nunca a abrangência nacional do Press Awards ficou evidente, com premiações dos estados de Massachusetts, New York, New Jersey, Georgia, Flórida, Texas e Illinois. O evento foi transmitido ao vivo pela Motion TV, através do site pressaward.com. Foi a primeira vez que o anúncio dos vencedores foi transmitido pela internet.

Em 2014 a cerimônia de premiação de Arte & Cultura foi transmitida ao vivo com mais de 27.000 pessoas acompanhando. Arte, Cultura & Comunidade A parte final do evento no Café Vico foi dedicada aos tradicionais prêmios de Arte, Cultura e Comunidade, com a jornalista e produtora Maria Fulfaro como mestre de cerimônias e cabendo a representantes das diversas mídias presentes, anunciar os vencedores em cada categoria, após Fulfaro enumerar os cinco indicados em cada uma delas. E não faltaram surpresas, com favoritos sendo desbancados por novos nomes, como também, refletindo o alcance do evento em todo o território norte-americano. Os vencedores:

• Artes Visuais: Margarette Mattos (MA) e Antonio Oliveira (NY)
• Fotografia: Fabiano Silva (FL)
• Folclore: Gil Santos (FL)
• Teatro: “A Paixão de Cristo” (MA)
• Ator: Marco de Ornellas (NY)
• Atriz: Alana Rosa (NY)
• Cinema & Vídeo: “O Cordel do Abraço” (MA)
• Literatura: “Comando Verde”, de Marcos Ommati e Fernando Montenegro
• Esportes: Anderson Varejão (NBA)
• Celebração do Brasil: Brazilian Day Festival of Allanta (GA)
• Evento Comunitário: Business Expo Massachusetts (MA)
• Evento Cultural: ArtBrazil at ARTServe (FL)
• DJ: Luis Paulo “Lupa” (FL)
• Cantor: Rodrigo Costa (NJ)
• Cantora: Fernanda Noronha (GA)
• Dupla: William & Wilmar (MA)
• Grupo Musical: Banda Azaração (MA)
• Músico: Thiago Tibério (NY)
• CD: “Toda Bossa”/ Joana Nova Iorque (NY) e “Fusion Crush) / Sérgio Hazam featuring      Michelle Amato
• Show Local: “The Girl From Ipanema”/ Beatriz Malnic (FL)
• Show on Tour: Lucy Alves
• Instituição Cultural: Evanston Escola de Samba de Chicago (IL)

Mulheres Combatentes

Coronel Fernando Montenegro*

A sociedade americana tem uma aceitação cultural peculiar sobre o assunto. No Cemitério Militar de Arlington, nos EUA, a alguns quilômetros do Pentágono (Washington, DC), existe uma parte dedicada especificamente à participação das mulheres em conflitos armados. O tema já foi abordado de uma forma romântica em filmes como “Até o Limite da Honra” (G.I. Jane-1997), protagonizado por Demi Moore, “Recruta Benjamim” (Private Benjamim-1980), com Goldie Hawn, dentre outros. Normalmente, busca-se apresentar o sexo feminino em igualdade de condições para desempenhar as atividades de combate.

Estatisticamente, os homens são superiores quando se compara força física e capacidade de transporte para carregar peso. Trata-se de uma diferença fisiológica que não pode ser ignorada. Além de estarem sujeitas ao ciclo menstrual (que interfere também na capacidade psicológica de algumas mulheres), as mulheres normalmente têm 11% a mais de gordura corporal e 8% a menos de massa muscular; lembremos que “o combate não faz concessões”. Esses aspectos influenciam diretamente no cumprimento da missão. Obviamente, isso não quer dizer que não existem mulheres com desempenho melhor do que o de muitos homens.

O regime democrático busca garantir igualdade de direitos a seus cidadãos em todos os aspectos, inclusive na possibilidade de arriscar a vida defendendo seu país. Baseando-se nessa premissa, no final de janeiro, o Pentágono autorizou a participação do sexo feminino nas atividades da linha de frente. A atitude não é pioneira; teoricamente França, Austrália e Alemanha já adotaram essa prática. Além disso, na guerra assimétrica (predominante no contexto atual), a definição georeferenciada do campo de batalha é muito difícil; carros-bombas podem ser lançados em postos de comando, militares são abatidos por snipers em regiões consideradas relativamente seguras e civis são sequestrados por terroristas.

As Forças Armadas Americanas contam com quase 1,5 milhão de militares, dentre os quais cerca de 210 mil são mulheres. Embora ainda não haja mulheres nas tropas de Infantaria, Rangers e Operações Especiais, algumas delas (socorristas, pilotas, mecânicas de aeronaves, dentre outras funções) já vêm participando diretamente das atividades de combate desde 2001.
O Exército Brasileiro incorporou suas primeiras mulheres no início da década de 90, apenas para atividades de apoio e administrativas. Posteriormente, vieram as médicas, engenheiras, veterinárias e enfermeiras. O Exército Brasileiro já forma mulheres no Curso Básico de Paraquedismo Militar e já formou mulheres no Curso de Operações na Selva. A ressalva é que os índices exigidos para elas são bem inferiores aos índices masculinos. Além disso, não há registrada nenhuma participação direta em atividades de combate.

Fazendo uma visualização, provavelmente apenas as mulheres da área de saúde (técnicas de enfermagem e médicas) e de comunicações seriam realmente empregadas na linha de frente. As oportunidades de emprego de tropas brasileiras são raras, tornando difícil ser conclusivo quanto a isso.

Tive a sorte de ter formado as duas primeiras guerreiras de selva do Brasil no Centro de Instrução de Guerra na Selva, em 2010, quando era Chefe da Divisão de Ensino. Não foi por iniciativa minha, nem criei os índices físicos de admissão; cumpri ordens com muita disciplina intelectual (e ainda era contra, assim como toda a equipe de instrução). Afirmo que os índices físicos exigidos eram significativamente inferiores aos dos homens e, mesmo assim, apenas duas (dentre dez voluntárias) foram aprovadas. Contudo, as duas concluíram o curso, que foi realizado juntamente com 35 homens (que foram aprovados no processo de seleção específico masculino). Quero destacar que as exigências durante o curso foram as mesmas para todos os alunos, e ainda tivemos uma desistência do sexo masculino na segunda semana. O desempenho físico e intelectual delas, como alunas, não deixou a desejar em nada, nem mesmo no peso da mochila.

Posteriormente, comandando a Força Tarefa Sampaio na ocupação do Complexo do Alemão (2011) e no Complexo da Penha (2012), empreguei mulheres (policiais militares, dentistas e médicas) no terreno, em apoio aos grupos de combate de Infantaria, para revistar transeuntes em pontos de controle. Nessa ocasião, o seu desempenho foi bastante elogiado.

Acredito que deve haver uma exigência igual para ambos os sexos, específica para cada tipo de missão, não só na avaliação intelectual, como também na psicológica e física. É leviano inserir um integrante despreparado e desqualificado, seja ele do sexo que for, em uma missão de alto risco, apenas para garantir igualdade democrática. Algumas atividades, mesmo para militares qualificados fisicamente, podem gerar também sequelas físicas graves e irreversíveis, como hérnia de disco, por exemplo. Logicamente, poderão existir missões para as quais o perfil indicado seja justamente o de mulheres. Tudo vai depender da situação.

Outro desdobramento que tem criado vários embaraços aos comandantes americanos é o do assédio sexual. Se, por um lado, têm ocorrido inúmeros casos de estupro insolúveis (pela dificuldade de identificação, materialização de provas, dentre outros aspectos), por outro lado, qualquer elogio de um companheiro na mesa do rancho, mensagem de texto, observação em redes sociais ou brincadeira pode ser passível de interpretação e acusação de assédio sexual.

Assim sendo, creio que o assunto vai continuar com o seu processo de amadurecimento e a gestão dos fatos pelos comandantes e assessores jurídicos irá conduzir ao aperfeiçoamento da participação das mulheres nas Forças Armadas ao redor do mundo.

*Fernando Montenegro é Coronel/R1 do Exército brasileiro, de Forças Especiais, Comandos e Paraquedista, especialista em Contraterrorismo e, por duas vezes, comandante de uma Força Tarefa Valor Batalhão de Infantaria Leve

Este artigo foi publicado originalmente na Revista Operacional.

Ex-comandante da Operação Arcanjo discute problemas atuais de segurança do Brasil no SOUTHCOM

Claudia Sánchez-Bustamante/DIÁLOGO

Uma das memórias vivas na mente do coronel brasileiro da reserva Fernando Montenegro, agora no início de sua vida como civil, é sua última atribuição na ativa como comandante de batalhão em uma missão de manutenção da paz durante as operações Arcanjo, responsáveis pela pacificação dos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, e pela manutenção da ordem pública, levando a segurança a seus habitantes e livrando a área dos traficantes de drogas e criminosos que a dominaram durante décadas.

Por que as memórias se destacam? Porque em sua atual função como consultor, analista e redator contribuinte de segurança e inteligência em diversas publicações especializadas, incluindo Diálogo, o Coronel Montenegro recorre a muitas ações adotadas pelo Exército brasileiro durante os esforços de pacificação para explicar a importância das operações psicológicas e das campanhas de informação no apoio às missões militares.

Com sua experiência e conhecimentos, Montenegro tem opiniões interessantes sobre a atual situação do Brasil, no momento em que o país se prepara para sediar alguns dos maiores e mais importantes eventos de sua história, e os problemas que surgem no caminho, aos olhos do mundo. “Minha perspectiva vem de um passado em que atuei como coronel do Exército e das Forças Especiais, com experiência pessoal no combate ao terrorismo, no controle das fronteiras e na pacificação das favelas, e assim sendo minha análise se baseia apenas nesse valor agregado”, diz ele.

Para discutir isso, apenas do ponto de vista de um especialista civil em segurança e inteligência, Montenegro visitou o Comando Sul dos EUA (SOUTHCOM) no dia 13 de agosto. “Eu compreendo a importância de se criar um entendimento mais profundo da atual situação do Brasil, dos protestos populares, das questões de segurança pública e do aumento na infraestrutura de forma integrada, tendo em mente que os veículos de mídia muitas vezes não conseguem transmitir essa imparcialidade”, acrescentou.

Em uma sala lotada de especialistas em segurança, tanto civil quanto militares, Montenegro fez uma análise detalhada da mobilização em massa que significa para o país sediar eventos de tal magnitude, do imprescindível apoio econômico aí envolvido e dos fantásticos esforços de coordenação e planejamento necessários para se obter o sucesso. Ou seja, a questão da segurança privada está sendo revista no momento para atender às necessidades da nova realidade da nação e cumprir os requisitos impostos pelos órgãos administradores, tais como a FIFA, em relação à Copa do Mundo de 2014.

O ex-coronel das Forças Especiais também declarou que durante a visita do papa ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, há poucas semanas, uma concentração de 3,5 milhões de fiéis ocupou a famosa região da Praia de Copacabana, uma faixa de não mais do que 4 quilômetros de extensão e 300 metros de largura. Essa foi a primeira vez em que uma multidão tão numerosa de pessoas se mobilizou – em parte graças às redes sociais – em uma área desse tamanho.

Felizmente tudo transcorreu sem problemas, resultado de cuidadoso planejamento, coordenação e colaboração de logística das diversas autoridades que trabalharam em conjunto.
No entanto, as estratégias sólidas de segurança para manter tais tipos de eventos “sob controle” são contestadas a cada novo evento, mais ainda ultimamente, em consequência de alguns grupos que se aproveitam dos acontecimentos para atrair a atenção através da violência. Além disso, o jornalismo cidadão “divulga” todos os aspectos dos eventos no momento em que ocorrem, compartilhando o bom, o mau e o feio com o mundo todo, muitas vezes até antes que as autoridades tenham a oportunidade de analisar as lições aprendidas com experiências anteriores para prever as ações futuras.

O Brasil e suas forças militares e de segurança têm realmente um longo caminho a percorrer nos próximos três ou quatro anos. “O Brasil é a bola da vez!”, disse Montenegro. E o mundo está assistindo.

Thursday, June 4, 2015

Estado de SÍTIO no RIO. Coronel é criticado por deixar claro que MILITARES não podem trabalhar no “JEITINHO”

Essa semana moradores de FAVELAS cariocas reclamaram de declarações de militar do Exército que disse que o correto seria declarar um estado de exceção nos locais onde as Forças Armadas vão agir, com toque de recolher e proibição de reunião pública entre moradores.

O militar reclamou que os efetivos do Exército quando estão no local vivem uma situação de guerra, não se abandona a região em hipótese alguma, todos os militares permanecem alerta TODO o tempo.

O militar também lembra que os policiais que trabalham na área vivem uma situação completamente diferente, atuam de forma rotineira. 

Polícia tem um sistema de rodízio. O policial fica ali um tempo e depois vai embora. Muitos deles fazem atividade paralela, onde têm uma outra fonte de renda …”, disse o Coronel do Exército.
Estive na região recentemente, presenciei situações que me deixaram com a certeza de que o Rio está em situação caótica. Vi pessoas ironizando os militares enquanto patrulhavam e vi outros  até enrolando cigarros de maconha e fumando enquanto a tropa passava em sua frente.

Pelo que o oficial conta, a maneira de trabalhar na maré, em que autoridades querem forçar militares das forças armadas a serem simpáticos, como se fossem agentes sociais fardados, não é coerente. Uma arma tem que ser carregada por alguém que recebe autoridade do estado para ser eficaz, e não para ser político.
“ essa mania do brasileiro de fazer o jeitinho deixa mais complicado de você fazer a coisa funcionar do jeito que tem que ser. As Forças Armadas não podem errar porque depois não tem ninguém para chamar.”
‘O bandido tem muito mais liberdade do que a tropa para atuar. … Existem princípios de uso proporcional da força. Se uma pessoa está para te dar uma facada, você não pode dar um tiro nela. Isso é muito complicado.”

Todos já assistimos vídeos em que moradores afrontam militares do Exército e tentam reduzir sua autoridade, Durante as rondas se ouve xingamentos de dentro das vielas e todo o tempo adolescentes fazem algum tipo de piadinha, sem contar as emboscadas e tiroteios freqüentes, que já ceifaram a vida de alguns militares.

As autoridades fracassaram repetidamente ao longo de mais de uma década e hoje chegamos a um estado em que andar pelo Rio de janeiro se tornou algo perigoso. Errar o caminho em alguns locais da Avenida Brasil significa uma sentença de morte. Atirar os militares federais dentro desses ninhos de cobra sem lhes dar ferramentas corretas e amparo legal para trabalhar é uma covardia.

Os moradores que reclamaram das declarações, pela própria idade e pelo meio em que “vivem”, não tem a mínima capacidade de avaliar o que é uma situação normal. Vivem, desde que se entendem por gente, sob o jugo de traficantes – crianças e acham que isso é algo normal. São submetidos a cerceamento de expressão e a leis de silêncio pelos líderes de suas comunidades, se reclamarem são executados. Mas, acham isso normal.

Uma das pessoas que reclamou foi a moradora Lúcia Cabral, coordenadora do Centro de Referência dos Direitos Humanos do Complexo do Alemão.

Robson A.D.SIlva — Revista Sociedade Militar //

Moradores de favelas repudiam visão de militar sobre 'estado de sítio' na Maré

Coronel Fernando Montenegro defendeu tese em relação ao complexo de favelas em entrevista ao DIA

Juliana Dal Piva
Rio - As declarações do coronel da reserva do Exército Fernando Montenegro foram recebidas com tristeza e perplexidade por moradores dos Complexos do Alemão e da Maré. Montenegro foi comandante em 2010 de uma das duas forças-tarefa da pacificação do Complexo do Alemão e defendeu ontem em entrevista ao DIA  que fosse instalada uma espécie de estado de sítio na Maré.

“Como vai garantir o direito do cidadão à liberdade? Onde fica o ser humano vivendo numa favela sitiada?”, questionou Lúcia Cabral, moradora do Alemão e coordenadora do Centro de Referência dos Direitos Humanos do Complexo. Ela diz que ficou em choque ao ler a defesa das ações armadas feita pelo militar. “Achei assustador. O poder público vive dizendo que tem que garantir o direito de ir e vir, mas qual é o direito da favela? Não somos cidadãos?”, critica Lúcia.

O diretor e fundador da Redes da Maré, Edson Diniz, também disse ter ficado preocupado com o olhar do militar sobre o trabalho na comunidade. “É a visão de um exército combativo e uma população inimiga. Na Maré tem trabalhadores que movimentam a economia e a cultura da cidade. Não são um exército inimigo que pode ter suas casas invadidas”, observa Diniz.

Ele ressalta que um dos principais problemas na comunidade é a falta de protocolo no relacionamento com os moradores. “Depende do comando. Quando era preciso fazer alguma reclamação de violações, uns iam apurar. Com outros era difícil até de fazer o registro”, conta Diniz.

O deputado Marcelo Freixo (Psol) acredita que a opinião do coronel demonstra o despreparo do Exército para a atuação na segurança pública. “Ao menos, ele é honesto. É uma opinião que tem que ser debatida, mesmo discordando bastante. Isso só afirma o quanto o Exército não pode exercer o papel de polícia. Não é a sua função constitucional. Eles olham para qualquer conflito para eliminar o inimigo. Isso já custou muito caro nos 21 anos de ditadura”, afirma.

ONGs veem 'nostalgia da ditadura'
Para Atila Roque, diretor da ONG Anistia Internacional, o coronel expressa uma certa “nostalgia da ditadura”. “O que a gente precisa é de um choque de direitos e de cidadania. Enquanto as pessoas não desfrutam isso, ninguém pode se dizer plenamente cidadão. A fala dele vai contra isso. É assustador ouvir de um alto oficial de Forças Armadas que a liberdade necessária para atuar teria que ser ‘pelo menos similar à de um bandido’. É se colocar no mesmo patamar do crime”, aponta Roque.

A diretora da ONG Justiça Global, Sandra Carvalho, conta que a organização chegou a documentar denúncias de abuso ocorridas na época da ocupação do Exército no Alemão. “Verificamos muitas violações que estão expressas na fala dele, como a entrada nas casas de forma ilegal. E mais: pessoas baleadas, espancamentos, pessoas mantidas em cárcere privado”, conta Sandra. Procurada, a Secretaria de Segurança não quis se manifestar.


Regras de engajamento para ocupações de favelas devem ser revistas

Coronel da reserva do Exército Brasileiro Fernando Montenegro*

As Forças Armadas do Brasil reduziram de R$15 milhões mensais para R$300 mil os lucros do tráfico de drogas no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro, desde o início da ocupação. Esse prejuízo tem acarretado grande apreensão nas lideranças das três principais facções do crime organizado carioca. Em fevereiro um olheiro ganhava R$700 semanais, atualmente mal recebem. Apesar disso, a situação está muito longe de ser resolvida e não é por culpa dos militares.

A maioria da sociedade crê que o crime organizado nas favelas seja materializado por traficantes portadores de fuzil que vendem drogas. Isso é apenas a ponta do iceberg que oculta milhares de pessoas desarmadas vivendo da renda direta ou indireta dos entorpecentes nas comunidades.
Por isso é essencial que antes de uma ocupação militar desse porte o Estado entenda o impacto econômico que a asfixia do tráfico irá causar e ofereça alternativa às pessoas. Isso não foi realizado no Complexo do Alemão e, com a saída das Forças Armadas, a situação retornou a níveis críticos, comprometendo a credibilidade do processo.

Os moradores da Maré observaram isso e sabem que a permanência das Forças Armadas é passageira; reforçando essa posição, um líder comunitário que apoiou ostensivamente as tropas da Maré não teve sua segurança garantida e foi assassinado no final de 2014.

A ocupação da Maré tem apresentado características bem diferentes das experiências do Alemão e do Haiti, interferindo bastante na interação dos militares com a população e com as facções criminosas.
No Alemão havia apenas uma facção criminosa, a invasão foi inesperada e não permitiu aos criminosos armados se evadirem levando os estoques de drogas e de armas. Entretanto, as outras estruturas do narcotráfico permaneceram para viabilizar o funcionamento após a saída do Exército.
Na Maré, observamos a milícia e mais três facções rivais do crime organizado que não abandonaram a área para não abrir mão do território, uma vez que as Forças Armadas não permanecerão lá eternamente. Duas dessas facções estão desde 2009 em uma violenta disputa de território.

Foi determinante para o sucesso no Alemão a captura da enorme quantidade de armas e drogas logo no início da operação. Isso foi viabilizado devido aos mandados de busca e apreensão coletivos associados a um disque-denúncia.

No Haiti, o BRABATT (Brazilian Battalion) controla a situação porque tem “carta branca” para verificar todas as casas e abater qualquer pessoa que esteja portando armas de fogo ostensivamente. Operacionalmente, esta é a única forma de garantir à tropa o mesmo grau de liberdade que o crime organizado tem de entrar em todas as casas, o que fazem pelo terror.

A decisão política de não conceder essas mesmas prerrogativa à tropa na Maré tem causado um desgaste desnecessário aos militares e comprometido o cumprimento da missão. Como resultado das restritivas regras de engajamento dos militares, entorpecentes são vendidos e consumidos no interior das casas, menores aliciados atiram pedras na tropa e traficantes passaram a ocupar lajes, de onde fazem emboscadas aos militares após as operações que levam a prisões, apreensões de armas e de drogas. Tiroteios diários chegam a levar horas e já atingiram quatro militares, um deles fatalmente. Uma guerra assimétrica dentro do próprio quintal.

Todos sabem que a ocupação da Maré pelos militares ocorreu devido à Copa e, se depender dos políticos, irá se prorrogar até as Olimpíadas. Assim como no Alemão (que durou 520 dias) também disseram que seria por curto espaço de tempo, mas já se percebe que não é a realidade.

Poderíamos levantar inúmeras observações sobre as operações militares, mas a verdade é que a solução do problema encontra-se no nível político. A sociedade precisa entender que as Forças Armadas têm que ser empregadas para decidir, pois são os últimos recursos a serem empregados. Por isso mesmo não podem prosseguir atuando sob os mesmos protocolos legais que regem as forças policiais. É um engodo semelhante a usar a mesma fórmula ineficiente para um remédio, apenas com embalagem diferente, esperando resolver o problema. A regra de engajamento precisa ser reescrita se quiserem buscar eficiência nas operações e preservar as Forças Armadas.

*Fernando Montenegro – Coronel R/1 Forças Especiais do Exército Brasileiro – Foi comandante da Força-Tarefa Sampaio na ocupação e pacificação dos complexos do Alemão e da Penha em 2011.

Wednesday, June 3, 2015

'Maré devia estar sob estado de sítio', diz coronel que ajudou a ocupar Alemão

Coronel Fernando Montenegro, hoje na reserva, defende teses polêmicas sobre como deveria ser a atuação da tropa na região


Juliana Dal Piva

Rio - O coronel Fernando Montenegro comandou uma das duas forças-tarefa que ocuparam o Complexo do Alemão em 2010. Agora, na reserva, conta com exclusividade detalhes da organização da missão e defende teses polêmicas sobre como deveria ser a atuação da tropa na Maré. Para ele, o governo deveria decretar uma espécie de estado de sítio na região.

O DIA: Qual a diferença entre o trabalho das Forças Armadas e da Polícia no Alemão e na Maré?

CORONEL MONTENEGRO: O Exército fica no terreno ocupando 24 horas. Não reduz efetivo. Do soldado até o general, todos ficam lá dormindo dentro da base. Você não vai para casa. É como se estivesse no Haiti. É uma coisa extremamente desgastante. A Polícia tem um sistema de rodízio. O policial fica ali um tempo e depois vai embora. Muitos deles fazem atividade paralela, onde têm uma outra fonte de renda e muitas vezes dão mais prioridade para aquilo que ao serviço. Alguns, todo mundo sabe, gostam de ser policiais para poder ter a arma. Enfim, isso não me interessa. O que quero caracterizar é que a forma de atuação do Exército é muito diferente. Foi uma realização, mas muita coisa tinha que ser feita para arrendodar a operação.
Como o quê?
Praticamente o mesmo que teria que arrendondar na Maré: uma regra de engajamento que permita fazer o trabalho que tem que ser feito. A situação em que se pode fazer o uso da força.
 
E qual seria a situação?
Uma regra para uma tropa nessa situação tem que ser similar a uma área com situação de anormalidade, estado de defesa ou de sítio ou alguma coisa que se aproxime disso. Isso é uma decisão no nível político. As Forças Armadas acatam, mas está sendo um desrespeito (não declarar estado de sítio) com a Constituição.
 
Foi assim que funcionou no Alemão?
Começou com uma operação de impacto e sem aviso. Não deu tempo dos traficantes saírem de lá. Logo em seguida foi concedido um mandado de busca e apreensão coletivo em que a tropa poderia entrar em todas as casas. Você anda pelo Alemão e vai ver um paraquedas pintado na porta de vários barracos e casas. Aquilo ali significava que a tropa tinha entrado nas casas para fazer revista em busca de drogas e armas. Achou-se muita coisa. Depois, pintava-se do lado de fora do barraco um paraquedinhas para mostrar que aquela casa já tinha sido inspecionada. Era mais por uma questão de gestão e organização. Você tinha uma liberdade que não tem comparação. Na Maré, a tropa não tem liberdade para entrar nas casas. No Alemão, funcionou assim por quatro ou cinco meses.
Funcionava como um estado de sítio?
O que tinha era o mandado. O estado de sítio vai muito além. Tem toque de recolher e várias coisas como a proibição de fazer reunião. É bem mais limitativo. Só que essa mania do brasileiro de fazer o jeitinho deixa mais complicado de você fazer a coisa funcionar do jeito que tem que ser. As Forças Armadas não podem errar porque depois não tem ninguém para chamar.
Mas não fica difícil para controlar casos de abuso?
O bandido tem muito mais liberdade do que a tropa para atuar. Teria que ter uma liberdade pelo menos similar a do bandido. Ele tem a vantagem da invisibilidade porque ele está diluído na população. Existem princípios de uso proporcional da força. Se uma pessoa está para te dar uma facada, você não pode dar um tiro nela. Isso é muito complicado.
Isso não criaria uma situação de confronto extremo em meio à população?
Já deu tempo suficiente para perceber que do jeito que está não vai funcionar. A sociedade precisa decidir qual é o preço que ela quer pagar para ter segurança. Isso logicamente envolve desgaste e envolve uma escolha mais inteligente dos políticos.
Não é uma guerra no meio da cidade?
O Rio é o único lugar do mundo onde você tem grupos de 40 pessoas andando com fuzil por becos e vielas e se diz que aquilo é uma situação de normalidade. A gente chama isso de democracia? Já é uma guerra.
Nenhum país venceu o tráfico de drogas. Esse esforço não é inútil?
"A sociedade precisa decidir qual o preço que ela quer pagar para ter segurança" Coronel Montenegro
Na Inglaterra, EUA, Israel e França a polícia atua de uma forma muito mais confortável e nem por isso fica uma caça às bruxas. Tem que dar uma resposta proporcional à violência que está ocorrendo. Nesses países tem um protocolo de atuação que não é tão questionado quanto os dos órgãos brasileiros quando tem que fazer o uso da força.
Nos EUA há grande contestação à atuação policial em mortes envolvendo negros.
O contexto social é diferente. Lá tem muito mais segurança que no Brasil. Tem policiais que cometem erros. Mas nos EUA, se você desrespeita um policial como acontece aqui, qual a primeira coisa que ele faz ? Saca a arma e aponta para você, vai um outro para cima e te empacota todo, imobiliza e já te bota com a cara no chão. Isso aí no Brasil, você vai botar a mão não pode: ‘imagina, só porque ele xingou’.

A Polícia brasileira é uma das que mais mata no mundo.
É porque tem uma escalada de violência dos dois lados. Se a polícia não tem um protocolo que respalde ela, começa a fazer coisas em paralelo. Mas a polícia brasileira é um capítulo à parte. Tem que ser reinventada.
Mesmo com esse esforço o Alemão ainda registra conflitos. O que faltou?
É preciso que se entenda que as UPPs são completamente diferentes das Forças de Pacificação comandadas pelas Forças Armadas. Já se percebe que as UPPs necessitam de ajustes de acordo com o lugar para ter eficácia.
 
DA REALIDADE À FICÇÃO
Após a missão de pacificação no Complexo do Alemão, o coronel Fernando Montenegro decidiu ir para a reserva e trabalhar como consultor de segurança. Além disso, convidou um amigo para escrever um livro de ficção sobre a experiência vivida no Rio.
A obra levou o nome de ‘Comando Verde’. Segundo ele, o título foi escolhido em função da maneira como o Exército passou a ser chamado no Alemão depois da ocupação. “Em alusão ao Comando Vermelho”, conta o militar.
Montenegro diz que aproveitou a obra para contar de modo romanceado diversos detalhes da operação. “O livro fala muita coisa dos bastidadores, de forma diluída e ficcional porque, como protagonista, não posso dizer ao vivo e a cores tudo que eu sei”, explica.
No fim do ano passado, ele se mudou para Portugal. Mas segue em contato com antigos comandados que agora trabalham na Maré. Em artigo publicado na última semana, ele diz ter ficado sabendo que o tráfico de drogas na região reduziu o lucro de R$15 milhões mensais para R$300 mil .